A notícia do Guardian que ontem foi amplamente referenciada pela BBC, CNN e Sky merecia outro tratamento que não a amalgama que o LR aqui fez. Merecia pelo menos ser tratada isoladamente e devidamente enquadrada. Por falta de tempo para mais, lembro que a capitulação da Alemanha e o fim da guerra na Europa se registou em 7 de Maio de 1945 e deixo aqui pelo menos a tradução desta notícia do Guardian, que os comentários acima sugerem que nem todos a compreenderam devidamente:
"As fotos da pós-guerra que as autoridades britânicas tentaram manter escondidas
• revelado o tratamento a suspeitos de serem comunistas
• 4 levados a julgamento marcial depois do inquérito de inspectores da polícia
Guardian, Ian Cobain, segunda-feira, 3 Abril, 2006
Durante quase 60 anos a evidência dum programa Britânico clandestino de torturas na Alemanha do pós-guerra, tem permanecido escondido nos arquivos governamentais. As fotos dilacerantes de jovens que sobreviveram, sendo sistematicamente submetidos à fome, bem como agredidos, privados de sono e expostos ao frio extremo, foram consideradas demasiado chocantes para serem vistas.
Como um ministro da época escreveu, o mínimo possível de pessoas devia estar ao corrente que as autoridades britânicas tinham tratado prisioneiros “num modo semelhante ao dos campos de concentração alemães ". Muitas outras fotos que se sabe foram tiradas desapareceram dos arquivos e mesmo este ano alguns funcionários do governo argumentavam que nenhuma devia ser publicada.
As fotos mostram suspeitos de serem comunistas que foram torturados numa tentativa de obter informação acerca das intenções militares soviéticas e métodos de informação numa altura em que alguns funcionários britânicos estavam convencidos que uma terceira guerra mundial estava somente a meses de distância.
Outros interrogados na mesma prisão, em Bad Nenndorf, perto de Hanover, incluíram nazis, proeminentes industriais alemães do tempo de Hitler, e antigos membros das SS.
Pelo menos dois suspeitos de serem comunistas passaram fome até morrer, pelo menos um foi espancado até à morte, outros sofreram doenças e feridas sérias, e muitos perderam dedos com o gelo.
O incrível tratamento dos 372 homens e 44 mulheres que foram interrogados em Bad Nenndorf entre 1945 e 1947 está detalhado num relatório feito por um detective da Scotland Yard, o inspector Tom Hayward. Ele fora chamado por funcionários superiores do exército para investigar o mau tratamento aos presos, parcialmente como um resultado da evidência que estas fotos forneceram.
O relatório do inspector Hayward permaneceu secreto até Dezembro passado, quando o Guardian conseguiu a sua publicação sob o Freedom of Information Act. As fotos mostradas aqui foram sonegadas antes do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) libertar o relatório, aparentemente porque o Ministério da Defesa não queria que fossem publicadas. Essa decisão foi anulada a semana passada, na sequência do recurso do Guardian.
Um dos homens fotografados, Gerhard Menzel, 23 anos, um estudante, foi preso por agentes secretos Britânicos, em Hamburgo, em Junho de 1946. Tinha-se tornado suspeito porque se acreditou que tinha viajado para a zona da Alemanha controlada pelos Britânicos de Omsk, na Siberia, onde tinha estado como prisioneiro de guerra. O seu peso, medido algumas semanas depois da sua prisão nos 10st 3lb, caíu para 7st 10lb pela altura em que foi transferido de Bad Nenndorf para um campo de detenção Britânico oito meses mais tarde.
Na ocasião, ele disse a Hayward, que as suas mãos tinham sido acorrentadas atrás das costas durante 16 dias uma vez, períodos durante o qual ele foi repetidamente esbofeteado na cara. Ele foi mantido numa cela vazia e frígida durante duas semanas uma vez e mergulhado em água fria todos os 30 minutos desde as 4.30 da manhã até à meia-noite, uma prática que o detective descobriu ter sido corrente.
Um médico do campo de detenção relatou que o senhor Menzel foi um de um grupo de 12 detidos transferidos de Bad Nenndorf, todos magríssimos e vestidos com farrapos. Os chegados antes também estavam meios mortos de fome. Alguns tinham feridas faciais, aparentemente resultantes de espancamentos. Uns poucos tinham feridas na pele, que se diziam ter sido o resultado da tortura feita com parafusos que tinham sido recuperados duma prisão da Gestapo em Hamburgo.
O senhor Menzel "era só pele e ossos," escreveu o médico. "Ele não conseguia nem andar nem estar de pé sem ajuda, e só conseguia falar com dificuldade porque a sua língua e lábios estavam inchados e partidos”.
"Era impossível medir a sua temperatura corporal porque não era superior aos 35 graus Celsius e o termómetro só começava nos 35."
O preso estava também confuso, ansioso e sofria de lapsos de memória, os seus pulmões estavam seriamente infectados e a pressão sanguinia estava perigosamente baixa. Somente depois de ser lavado, alimentado e aquecido com lâmpadas a sua temperatura subiu aos 36.3C, mas o médico receava que a sua chance de sobreviver era mínima.
Outro homem fotografado, Heinz Biedermann, 20 anos, um empregado, fora preso em Outubro de 1946 porque estava na zona Britânica, enquanto que o seu pai, que vivia em Stendal na zona Russa, fora identificado como sendo “um comunista ardente”. Pela altura em que fora transferido de Bad Nenndorf quatro meses mais tarde o seu peso descera de 11st 3lb para 7st 12lb. Ele disse que fora mantido em prisão solitária a maior parte do tempo, ameaçado com execução, e forçado a viver e a dormir em temperaturas abaixo de zero com pouca roupa.
Um guarda do exército Britânico disse ao Inspector Hayward que o senhor Biedermann se “gastara como uma vela” durante o seu internamento. Um outro, um soldado do Regimento de Essex Regiment, disse ao detective que se queixou que ele e os seus camaradas se comportavam tão mal quanto os alemães. "Eu tornei-me muito impopular depois disto ... o sargento não levou muito bem a minha observação."
Sobre a transferência do senhor Biedermann para o campo de detenção, um funcionário de Bad Nenndorf requereu que ele ficasse detido “por um período adequado” para evitar que ele desse aos Soviéticos "informações detalhadas deste centro e dos métodos de interrogatório".
Os relatórios do MNE mostram que o oficial da marinha que comandava o campo de detenção, o Capitão Arthur Curtis, estava tão chocado com as condições dos homens que lhe enviavam que ordenou que fossem tiradas fotos como suporte das suas queixas acerca do tratamento destes “esqueletos vivos”.
Fotos de vários outros presos, tirados na mesma altura, parecem terem-se sumido dos arquivos do MNE.
No outro lado da zona Britânica, entretanto, um oficial da Royal Artillery queixava-se do estado dos detidos de Bad Nenndorf que eram atirados dum camião para a entrada dum hospital militar. Alguns pesavam menos de seis stones, e dois morreram pouco depois da sua chegada.
Os relatórios mostram que Bad Nenndorf dependia dum departamento do Gabinete de Guerra chamado o Combined Services Detailed Interrogation Centre (CSDIC).
Pelos fins de 1946, o CSDIC parece ter perdido o interesse nos nazis, e estava a perseguir os comunistas. Parece que os presos estavam a ser interrogados mais acerca dos métodos e das intenções Soviéticos do que do próprio Partido Comunista.
Alguns dos detidos de Bad Nenndorf's estavam na verdade a espiar para os Soviéticos: um preso que era meio-norueguês e meio-russo, disse a Hayward que era um oficial no NKVD, o precursor do KGB, e que tinha estado a operar conyinuamente na Alemanha desde 1938. Um outro, um jornalista alemão que tinha sido libertado pelos soviéticos duma prisão da Gestapo, foi apanhado a voar para o aeroporto de Croydon com papéis britânicos falsos. Ambos foram deixados morrer à fome e seriamente torturados.
Outros, claramente não eram espiões. Um homem que foi deixado morrer à fome era um ex-soldado gay apanhado com papéis falsos quando atravessava a zona britânica à procura do amante, e um outro era um jovem alemão que estava a ser interrogado porque se tinha voluntarizado a espiar para os britânicos na zona russa, e tinha sido erradamente tido como suspeito de mentir por causa dum erro no seu relatório médico.
Quatro oficiais britânicos foram julgados depois da investigação de Hayward.
Documentos desclassificados mostram que as audições foram feitas na sua maioria à porta fechada para evitar que os soviéticos descobrissem que havia russos a serem detidos.
É admitida uma outra consideração para a determinação de esconder a existência de várias outras prisões da CSDIC. Enquanto é sabido que um dos centros de interrogatório se localizava no centro de Londres, pouco se sabe dos da Alemanha.
A seguir aos julgamentos de guerra, a prisão em Bad Nenndorf, foi substituída por um centro de interrogatórios especialmente construído para esse propósito perto da base da RAF em Gütersloh, e foram dadas ordens para os detidos serem examinados por um médico antes do interrogatório. Não se sabe quando é que este centro foi fechado.
O único oficial de Bad Nenndorf a ser condenado foi o médico da prisão. Com 49 anos de idade, a sua sentença foi ser demitido do exército. O oficial comandante, Coronel Robin Stephens, foi inocentado da acusação de "conduta cruel " e foi-lhe dito que estava livre para se candidatar a reunir-se aos seus antigos empregadores no MI5. "
Colocado por "Margarida" nos comentários a um post do AspirinaB: "Mais três achegas para confirmar a superioridade moral da Civilização Ocidental"
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