domingo, janeiro 06, 2008

Faleceu Luiz Pacheco, o libertino

"Não sei nada. Duvido de tudo. Desci ao fundo dos fundos, lá onde se confunde a lama com o sangue, as fezes, o pus, o vómito: fui até às entranhas da Besta e não me arrependo. Nada sei do futuro, e o passado quase esqueci. Li muito e foi pior. Conheci gente estranha nesta viagem. Pobre gente: estúpidos de medo, doidos espertalhões, toscos, patarecos, foliões e parasitas da Vida, parasitas (os mais criminosos, estes) chulos do próprio talento, desperdiçando tudo: as horas do relógio deles e dos outros, e os defeitos de todos, que tudo tem seu calor e seu exemplo; ou frustrados falhados tentando arrastar os mais para o poço onde se deixaram cair por lazeira ou cobardia, impotência de criar (mas o coveiro nada perdoa!). Cadáveres adiados fedorentos viciosos de manhas e muito mal mascarados. Uma caca a respirar."

excerto do texto de Luiz Pacheco, "A comunidade"

2 comentários:

Maria disse...

... e que dizer do texto "os namorados"?
Já foi. Já tenho saudades...

almada disse...

O texto de "os namorados" é, tal como a "comunidade", autenticas pérolas da literatura portuguesa.