Costuma dizer-se que "com o mal dos outros podemos nós be...". Não gosto da expressão - dito popular - por ser demonstrativo de um arreigado egoísmo mas ilustra o tempo que vivemos. Lembrei-me dela por o governo estar a trazer para os debates, para a praça "pública", o argumento aparentemente irrespondível dos últimos indicadores económicos.
A variação do PIB teria crescido mais que o esperado (0,9% de variação homóloga real) e por efeito da procura externa liquida, com um contributo de 2,6 pontos percentuais em resultado do elevado ritmo de crescimento das exportações.
Não se diz é que o contributo da procura interna para a evolução do PIB foi negativo, tendo diminuído 1,7 p.p , reflectindo a queda do investimento (-7,2%) e a desaceleração do consumo privado (0,1%).
Dito de outra maneira, os números melhoraram porque lá de fora nos vieram comprar coisas, enquanto cá dentro o consumo estagnou e o investimento baixou significativamente.
Motivo para tanto contentamento contentinho?Poderá, assim, adaptar-se o dito popular e dizer que "com o bem dos outros disfarçámos o nosso mal".
Mas não é apenas isso. Também chegam notícias, pelo relatório trimestral sobre a "zona euro" - de que Portugal faz parte -, que o crescimento nessa zona foi "melhor do que se esperava" e "atingiu 3,5% em ritmo anual no primeiro semestre, a mais forte taxa desde há 6 anos".
Daqui se conclui que crescemos porque lá fora, na vizinhança, se cresceu, e de novo muito mais que nós. Em "europês" continuamos a divergir dos níveis "europeus" e de forma crescente! A economia animou onde se exporta, e poucas serão as empresas portuguesas que o fazem relativamente às multi e transnacionais que aqui aproveitam os baixos salários, o investimento diminuiu em termos preocupantes e o consumo estagnou.
Não será caso para dizer que "com o bem dos outros podemos nós ml..."?
http://anonimosecxxi.blogspot.com/
terça-feira, outubro 03, 2006
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