domingo, maio 21, 2006

Eles andam por aí

Exemplo de acto censório, com todos os matadores e à boa maneira de qualquer ditadura que se preze, é a decisão tomada por um tal Marcel Bozonnet – director da Comédie Française e certamente democrata de primeira água - de proibir a representação de uma peça do dramaturgo austríaco Peter Handke. A notícia veio no Público e as razões da proibição não têm a ver com eventual falta de qualidade da peça - da qual o director do Berliner Ensemble louva «o valor humanista» e que considera «um manifesto pela não-violência» e que o prórpio ministro francês da Cultura diz que «levanta questões de alcance universal aos nossos contemporâneos, que, nos tempos conturbados que vivemos, teriam sido úteis ao público». Então, qual a razão que levou o tal Bozonnet a puxar do seu lápis azul e proibir a peça? Simples: segundo o coronel, Peter Handke cometeu dois crimes, qual deles o mais grave e ambos passíveis de castigo: o primeiro foi ter estado presente no funeral de Slobodan Milosevic - de cuja morte, recorde-se, foi responsável o Tribunal Penal Internacional, um tribunal concebido desde o início para julgar e condenar dirigentes sérvios e composto por fantoches, mascarados de juizes, ao serviço do imperialismo norte-americano; o segundo crime do dramaturgo austríaco foi ter dito, no elogio fúnebre que pronunciou, que se sentia «feliz por estar ao lado Milosevic, um homem que defendeu o seu povo».

Retirado de:
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=14359&area=25